Viajar sem os filhos ainda pode ser visto com maus olhos pela sociedade, mas é muito saudável para todos os envolvidos
Desde que eu virei mãe da Maria Eduarda, minha única filha, há 3 anos, uma coisa eu já sabia: não queria ser somente mãe. Sempre me esforcei para cumprir meu papel da melhor forma possível, mas também para não deixar de lado meus outros papéis. No trabalho, em casa, com o marido e também com as amigas. Se eu não tiver meu tempo como “Nicole pessoa”, e não só “Nicole mãe”, dificilmente estarei bem para cuidar de um filho. Não é egoísmo se amar e se cuidar, é necessidade. Se não nos cuidarmos, como podemos cuidar de outra pessoa?
Sempre me atentei em não deixar de lado as outras versões de mim mesma, e foi muito importante. Sair com as amigas, viajar só com o marido, ler meus livros e assistir meus seriados na minha própria companhia, e até fazer viagens somente com amigos. É saudável, faz bem pra cabeça. A gente descansa, se conecta com as pessoas importantes das nossas vidas de uma forma diferente. Não vive somente pra filho, também cuida do resto da nossa vida.
Acredito que, em algum ponto, a sociedade como um todo colocou esse cenário como erro, deixando as mães com aquela sensação de culpa, se limitando a serem somente mães, se sentindo mal por qualquer coisa além disso. Mas não se esqueçam que antes de nascer essa mãe, existiam muitos outros papéis, que podem coexistir com esse novo que lhe foi dado. Não vejo mal em termos momentos nossos, só nossos, e até mesmo em cortamos o cordão umbilical dos filhos. Inclusive, só vejo bem.
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Uma vez uma amiga bem mais velha, que engravidou novinha como eu e hoje tem filhos grandes, me disse: “Cuide de você e do seu casamento. Filhos vão embora, mas a sua companhia até o fim da vida é seu marido”. Lembro também da minha mãe sempre me dizer que me criou para o mundo, que queria me ver voar e crescer. Isso me fez bem demais, me fez crescer independente, segura de mim mesma e das minhas decisões. Hoje passo essa autonomia, segurança e independência para minha filha com muita certeza do que estou fazendo.
Nesses 3 anos e 3 meses da Maria Eduarda, fiz viagens só com o marido, só com amigas, em turma de amigos, e sempre foi saudável. É tempo de qualidade, de descanso, de se reconectar com versões além de mãe. É também importante deixar minha filha em segurança mesmo sem mim, porque infelizmente a vida não pode ser um eterno grude de mãe e filha, o cordão tem que ser cortado.
Essa semana embarco para mais uma viagem sem ela, assim como já tiveram inúmeras com, o que também é extremamente valioso. Um pouco de aperto no coração? Sempre dá, mas eu vou em paz – me divirto, curto um tempo e momento só meus. O diálogo faz toda a diferença. Diferente do que muita gente pensa, as crianças têm total capacidade de entender o que fazemos e falamos. Eu sempre explico como e porque vou, o que traz bastante segurança, assim como explicar e deixar bem claro que a mamãe vai, mas volta.
Tire um tempo pra você. Se lembre de quem você também é, além de mãe. Vá, e volte! Se cuide, cuide das suas amizades, do seu relacionamento, da sua vida como um todo. Não se limite a uma coisa só. É saudável, faz bem pra cabeça.
E à minha mãe, meu eterno agradecimento por vir cuidar da minha filha sempre que eu a chamo, assim eu vou muito mais em paz!
Um beijo, com a cabeça já lá na Bahia,
Nicole
Nicole Freire Santaella tem 25 anos, estuda Administração e é mãe da pequena Maria Eduarda. Aos 20 anos, sofreu um AVC Isquêmico na academia e ficou hemiplégica, com o lado esquerdo do corpo paralisado. Atualmente, Nicolle divide suas experiências de vida e compartilha sua história de superação no Instagram @nicolepfreire
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