Seja por apreço ou por adesão degustar uma farofa é sempre uma boa opção. À mesa, do café da manhã ao jantar, a farinha – seja a de mandioca (o mais brasileiro dos insumos) à de milho (o mais americano dos cereais) agregada a ingredientes simples se torna uma refeição sem igual. O que seria do frango perfeito sem a farofa de miúdos empanturrados no interior do galináceo?
Hummmmmmmmmmm!!! Era a refeição oficial preparada pela vó Maria para ser devorada dentro da Rural do pai, nas horas intermináveis de viagem entre a capital e litoral do Paraná. E engana-se quem atribui a farofagem apenas ao povão ou comidas datadas. Coisa do passado. A verdade é que todos nós brasileiros somos verdadeiros farofeiros. A realeza também curtia farofar. Vide Dom João VI, que não saia sem a garantia de que a farofa e a galinha o acompanhavam.
Mas, aos farofeiros de plantão, lembremos: desde sempre a farofa é uma forma eficiente de multiplicar a refeição. É comida de resistência, comida que sacia. Seja preparada como refeição, satisfaz paladares diversos quando, à base de farinha de milho, é preparada com carne-seca desfiada mais cebola. Ou, ainda, feita com ovos caipira remexidos e grãos de milho tirados direto da espiga.
Enfim, farofa não tem erro, apenas algumas regras seguidas à risca se você decidir dedicar o preparo ao mestre das letra, Antônio Houaiss. Obcecado pela iguaria, Houaiss desenvolveu um estudo sobre FAROFA no livro ‘Magia da Cozinha Brasileira – Para Deuses e Mortais (editora Primor), 1979 – com fotos de Alain Draeger. Para a obra, realizou pesquisas Brasil afora que embasaram seus argumentos, e, claro, degustou centenas delas, elaboradas exclusivamente com a farinha de mandioca, que, segundo o próprio, “a única que condiz com o preparo da iguaria”. No verbete, em seu Dicionário Houaiss, o escritor afirma que “é iguaria feita à base de farinha de mandioca frita na manteiga ou na gordura que pode ser enriquecida com outros ingredientes”. Para ele, existem três técnicas de preparo: d´água, de manteiga e de molho, que, por sua vez, geram diversas subdivisões. Sem falsa modéstia, tenho a certeza de que o filólogo aprovaria a junção de farinha de mandioca com camarão soltinho, elaborada conforme os preceitos básicos de Antônio Houaiss.
Ingredientes
– 300 gramas de camarão pequeno, com cabeça, rabo e casca. Bem lavado, escorrido, passado na farinha, e frito em óleo bem quente. Depois de pronto, reserve-os
– 1 cabeça grande de alho (é para ter muito mesmo), com os dentes cortados em finas lâminas
– 2 ovos com gema caipira
– 1 colher de sopa de manteiga
– 50 ml de azeite
– 1 pimenta dedo-de-moça picada
– 2 tomates, sem as sementes, em cubos
– ½ maço de salsinha, bem picado.
Modo de preparo
– Aquecer o azeite, com manteiga e óleo.
– Em fogo baixo, dourar as lâminas de alho (tome cuidado. Em segundos pode queimar e ficará amargo)
– Assim que o alho dourar coloque os camarões e a dedo de moça, mexa rapidamente incorporando-os ao alho
– Acrescentar lentamente a farinha. Não coloque toda, já que ela não deve ficar seca, mas deve manter a umidade.
– Mexer sem parar
– Quebrar os ovos numa tigela e adicionar à farofa
– Mexer delicadamente para que se formem grumos com a mistura
– Colocar os tomates e continuar mexendo em fogo baixo.
– Se sentir que está muito seca regue um pouco mais de azeite
– Desligue o fogo
– Está pronta para ser servida.
